Esse curso tem como objetivo promover aos alunos maior conhecimento sobre método, teoria e prática dos pontos de interseção entre os campos da Antropologia Cultural e a Fotografia Documental, proporcionando o aprofundamento acadêmico sobre linguagens que se interpuseram ao longo de suas trajetórias.
O curso pretende, para além de apresentar as formas tradicionais do uso da fotografia na antropologia visual, que de maneira geral vem sendo subutilizada, levar aos alunos novas vertentes metodológicas, como a pesquisa de campo multissituada de George Marcus, na qual o autor propõe de se escapar ao mise-en-scène Malinowskiano do “distanciamento” e da “limitação espacial”, optando pela cumplicidade entre observado e observador. O autor ainda propõe a arte, ou melhor, o artista em interação com o “nativo”, na sua busca de criação/produção, como um modo de apreensão de “realidades”, que em muito pode contribuir com o fazer antropológico.
Por outro lado, a fotografia tem imergido, cada vez mais, em temas de cunho social, apresentando uma tendência à valorização de trabalhos que contribuam para uma reflexão e conscientização sobre desigualdade, diversidade, grupos culturais segregados ou em situação de risco. Nesses casos, valendo-se muitas vezes de inserções no campo de forma intuitiva, ignorando métodos e teorias cânones da antropologia que poderiam contribuir de maneira efetiva para ampliar a potência dessas produções. Dentro do campo da fotografia, tradicionais métodos e delimitações estéticas que criam fronteiras, por exemplo, entre fotojornalismo, foto documental e arte, também passam por questionamentos teóricos que produzem novas possibilidades do fazer fotográfico. Trabalhos fronteiriços como os de Miguel Rio Branco, Rogério Reis, João Roberto Ripper e Alexandre Sequeira, entre muitos outros, ratificam novos lugares de representação de grupos culturais que escapam as classificações tradicionais.
Dessa maneira, intercalando estudos e práticas dessas duas áreas, o curso tem como objetivo oferecer conteúdos consistentes que contribuirão tanto para maior densidade na formação de antropólogos – e afins – apropriando-se de outras linguagens em suas pesquisas, como também, oferecer a fotógrafos - ou iniciantes - um percurso metodológico consistente para suas práticas de representação cultural.