A palavra grega Gnosis
significa conhecimento. Nos primeiros séculos do Cristianismo, havia um grupo
de indivíduos que buscavam a salvação pelo conhecimento e não pela fé em dogmas
cristalizados pelas religiões. No entanto, não se tratava de um conhecimento
racional, mas obtido através da experiência direta.
Oriundos tanto da tradição cristã como pagã, os gnósticos desenvolveram um
processo intuitivo que abarcava tanto o conhecimento de si próprio como da
divindade. Nas doutrinas e escolas gnósticas que surgiram no seio de
cristianismo, seus integrantes foram perseguidos, excomungados, mortos e
taxados pelos representantes da ortodoxia como hereges. Em paralelo, nas
províncias gregas do Egito, desenvolvia-se uma doutrina conhecida como
hermetismo, centralizada na figura mitológica do três vezes grande Hermes
Trimegisto, mensageiro do Nous (o espírito de Deus), que se assemelha à Sophia
(sabedoria divina) dos gnósticos cristãos.
Entre as contribuições dos gnósticos, destaca-se, sobretudo, uma
visão singular sobre o problema do mal, que os doutores da Igreja oficial
sempre se esquivaram em penetrar a fundo e oferecer uma resposta satisfatória.
De acordo com boa parte dos predicadores dessa doutrina, o mal é a própria
essência do mundo manifestado, criação imperfeita de um deus menor, ou
Demiurgo, usurpador do poder da divindade autêntica, que permanece exilada e
alienada do conhecimento dos indivíduos que vivem sob um manto de ilusão. Sob
esse aspecto, cabe ao gnóstico empreender uma jornada trágica em busca da
centelha divina que o libertará das trevas da ignorância fundadas pela tirania
do Demiurgo.
Estas e outras questões pertinentes ao tema serão abordadas
durante o curso, que se propõe a oferecer uma visão panorâmica, mas
consistente, aos interessados no tema, que, no decorrer dos séculos, vem
fascinando artistas e estudiosos das mais diversas áreas, como
William Blake, Carl Jung, Jorge Luis Borges, Fernando Pessoa e Erik Satie,
entre muitos outros.