Em 1971, Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, três escritoras portuguesas já estabelecidas em suas profissões, combinaram de se reunir semanalmente para trocar entre si textos em torno de um único tema: as cartas de amor de Soror Mariana Alcoforado conhecidas como Cartas Portuguesas, que já reúnem em si uma série de questionamentos relacionados à sua origem. A vida da freira enclausurada no século XVII passaria a ser, então, o mote para que as três amigas escrevessem sobre os mais diversos temas que se tornariam fundamentais para a teoria e a política do feminismo contemporâneo, como a vinculação (familiar, amorosa, comunitária, literária), a sororidade (autoral), a transgressão, o aborto e o feminicídio, entre outros.
As Novas Cartas Portuguesas tornaram-se um verdadeiro libelo, a todos os níveis, revolucionário, que reclama o direito à plenitude da existência política, econômica, social, cultural e sexual das mulheres ao mesmo tempo em que subverte o conceito tradicional de autoria, mesclando gêneros e vozes, que acaba por compor um todo dificilmente categorizável e extremamente inovador. Considerada pornográfica e atentatória à moral pública, a obra foi proibida e as autoras processadas. Em 2022, foram comemorados os 50 anos da publicação deste livro que continua a nos oferecer uma experiência urgente e arrebatadora.