Novas Poéticas do Roteiro Audiovisual é um curso de extensão em Roteiro que visa a oferecer a seus estudantes um panorama contemporâneo do ofício da escritura audiovisual, ou a arte de escrever para as múltiplas telas de nosso mundo.

O curso é fruto de minha experiência de 15 anos como roteirista profissional, baseado nos conceitos oriundos de minha prática pessoal, sistematizados a partir das disciplinas Oficina de Dramaturgia para Cinema e Oficina de Dramaturgia para Televisão, oferecidas desde 2016 para as graduações em Letras e Artes Cênicas. Em outras palavras, Novas Poéticas do Roteiro Audiovisual é sobre como tenho escrito roteiros e treinado novas gerações de roteiristas neste ofício.

Considerando a noção barthesiana de que “o know-how da arte é irrepetível,” aqui utilizamos o termo Poética, tomado na acepção de Ian W. Macdonald, professor da Universidade de Leeds e um dos principais autores do campo dos Estudos em Roteiro. Para ele, “a poética do roteiro não é, portanto, estabelecer as regras do ofício, mas estudar as razões pelas quais elas aparentam ser importantes. A poética não é sobre como escrever roteiros; mas sobre compreender as práticas atuais de como são escritos, e as instituições, indivíduos e crenças que jazem por trás deles.”

Mais do que buscar uma Poética descritiva, que analise os processos criativos de obras audiovisuais bem-sucedidas, ou uma Poética prescritiva, como as dos manuais de roteiro, que preconizam a repetição de fórmulas cristalizadas, postulando como as obras audiovisuais devem ser escritas - manuais frequentemente escritos por gurus com pouca ou nenhuma experiência real como roteirista.

Em última instância, um roteiro é uma sequência de cenas. Dessa maneira, o curso se concentra no desenho de cenas (scene design), relegando o desenho de histórias (story design) - sobre o qual se concentra a imensa maioria dos cursos de roteiro - a um espaço menor. Assim, o estudante desenvolve a capacidade de escrever cenas instigantes, fundamentadas pelos princípios da dramaturgia audiovisual ocidental - a partir do pensamento cênico, da ação simbólica, do diálogo não-expositivo e do conflito. E principalmente a partir do compromisso com a escrita e não com a repetição de teorias sobre a escrita, mitologia ou criatividade, que circundam o tema mas não vão ao ponto central - contar histórias por meio de imagens e cenas.

Em outras palavras, aqui se dá mais valor à Pragmática do Roteiro do que meramente à sua Semântica e Sintaxe, que embora importantes e complexos não se equiparam à atividade-fim do roteirista: o desenvolvimento de roteiros. Afinal, nas palavras de Jean François Lyotard, “não se aprende a empregar uma linguagem porque se adquiriu expressamente suas propriedades gramaticais ou lexicais. Antes, aprende-se a falá-la avançando às cegas no oceano das frases, como fazem as crianças.”

O foco é a prática do roteiro, cena após cena, considerando de maneira crítica a ortodoxia do roteiro, cheia do que David Bordwell chama de “taxonomias estéreis e prescrições dogmáticas.” Considero a ortodoxia como Ian Macdonald: “um sistema poético que está localizado no tempo e no espaço, e que, como estrutura, serve para informar artistas sobre seus julgamentos no contexto particular de uma determinada indústria e cultura,” sem que ela represente um sistema fechado ou um manual de práticas obrigatórias no contexto profissional.

Oposto a isso: Novas Poéticas do Roteiro Audiovisual busca oferecer aos estudantes um ferramental teórico-prático que os ajude no desenvolvimento de roteiros audiovisuais, narrativas capazes de entreter e promover reflexões sobre quem somos e nossos modos de vida.

Desenvolver nos estudantes a competência da escritura audiovisual;

Pensar o roteiro de maneira não-dogmática e não-formulaica, oferecendo alternativas à abordagem estruturalista dos manuais de roteiro;

Propor uma Poética pessoal, que ensine pelo compartilhamento de experiências e não pela repetição de fórmulas cristalizadas;

Promover um pensamento independente, aberto e crítico à ortodoxia do roteiro

Possibilitar a criação de histórias originais, a partir do estímulo à autonomia do autor dentro da lógica da indústria criativa.

Roteiristas, escritores, jornalistas, publicitários, executivos de mídia, atores, narradores, profissionais de marketing, estudantes de comunicação e cinema.

As aulas são divididas em dois tipos: primeiro, as aulas teóricas consistem numa explanação oral seguida de discussão sobre os conceitos que norteiam a Poética Audiovisual. Mais do que desenhar uma gramática do Roteiro, o objetivo aqui é criar um vocabulário comum para discutir o pensamento e a prática em Roteiro.

As aulas teóricas provocam um exercício (uma cena ou sequência de cenas) escrito pelos estudantes e enviados por email.

O segundo tipo de aula é de natureza prática. Alguns exercícios enviados pelos estudantes são selecionados e lidos em voz alta no telão, para que sejam comentados e discutidos pelo professor e estudantes. Isso permite que todos aprendam com os erros de todos, além de aprimorar a formatação e observar na prática a aplicação das teorias discutidas nas aulas teóricas