Tendo como fio condutor a
análise das trajetórias e experiências de indígenas, africanos e seus
descendentes nas duas margens do Atlântico Sul, o objetivo do curso é propor a
reflexão sobre a possibilidade de unir dois campos historiográficos que, salvo
algumas exceções, têm se desenvolvido separadamente: a historiografia sobre os
povos indígenas e a sobre a escravidão, os africanos e seus descendentes daquém
e dalém mar (nas Américas e no continente africano). Esta abordagem pode
apresentar muitos ganhos tanto em termos teórico-metodológicos, quanto no que
diz respeito a escolhas temáticas, a análises que reflitam sobre as múltiplas
interações entre esses grupos. A ideia é pensar em propostas que se debrucem
sobre essas populações de forma isolada ou conjunta; por meio de uma abordagem
cruzada que pense nas conexões entre diferentes lugares das Américas e/ou do
continente africano ou mais circunscritas a localidades específicas; pelo
estudo de coletividades ou trajetórias de vida; embasadas em reflexões teóricas
que reflitam sobre como esses campos de estudo pensam os diálogos entre a
história, antropologia, arqueologia e os conceitos de cultura, etnia e agência;
trabalhos que se voltem a multiplicidade de fontes (materiais, orais, escritas,
outras escrituras como grafismos, ideogramas etc.) analisadas de forma
entrecruzada; estudos que abordem os saberes e técnicas de indígenas e
africanos incorporados por missionários, naturalistas e viajantes europeus em
seus escritos, desenhos e cartas, ou seja, trabalhos que evidenciem como a
botânica, a medicina, a química, a mineralogia, a arte, o pensamento político,
a filosofia, as diferentes formas de escrita e de escritura se pautaram no
conhecimento e experiência acumulados das populações originárias das Américas e
de diferentes partes do continente africano.