Em entrevista à ocasião do G20 ocorrido no Rio de Janeiro em 2024, o presidente da Colômbia Gustavo Petro aponta a crise do multilateralismo ao destacar a emergência de um 'fascismo de novo tipo'. Não é sem espanto que testemunhamos a ascensão de chefes de Estado, democraticamente eleitos, que mobilizam o medo da chamada 'ideologia de gênero' para a consolidação de regimes autoritários. No livro Quem tem medo do gênero? (2024), a filósofa estado-unidense Judith Butler procura compreender 'o movimento antigênero como parte do fascismo' (2024, p. 29) e escreve sobre o desejo de 'restauração de uma ordem patriarcal' (2024, p. 20). Esse desejo de restauração está associado à crise da forma democrática.
Em a estrutura psicológica do fascismo (1933), o filósofo francês Georges Bataille indica que líderes fascistas pertencem à ordem heterogênea, aquilo que escapa à regra, marcada pela 'monotonia democrática'. O fascínio do líder sobre a massa homogênea consiste no fato de que ele propõe romper a repetição democrática, ao colocar-se no lugar da exceção. Bataille encontra na Psicologia das massas e análise do eu (1921), de Freud, uma introdução essencial à compreensão do fascismo, ao efeito hipnótico do líder sobre a massa, ao retorno mítico do pai da horda primitiva, de Totem e Tabu (1913).
Para pensar os neofascismos contemporâneos e suas relações com o 'sonho erótico patriarcal', citando novamente Butler, o presente curso terá em vista uma reflexão sobre a estrutura psíquica do fascismo. Para tanto, faremos leituras detidas de Butler, Bataille e Freud. O livro Estado, movimento e povo (1933), do jurista alemão Carl Schmitt, filiado ao partido nazista, auxiliará a pensar a relação entre a soberania estatal e a figura do líder em uma perspectiva jurídica. Pensaremos as mesmas questões na leitura dos romances A parábola do semeador (1993) e A parábola dos talentos (1998), da autora Octavia Butler. Neste último, Butler parece antecipar um cenário aterradoramente contemporâneo: a ascensão de um candidato à presidência que, em nome de valores tradicionais, ameaça qualquer possibilidade de igualdade racial e de gênero. Como o retorno triunfal do pai pode estar associado às propostas contemporâneas de restauração de Estados autoritários? Essa pergunta norteará nossa reflexão nos campos da filosofia, da psicanálise, do direito e da literatura.
- A partir da leitura dos textos teóricos e literários, tem-se em vista uma reflexão acerca das relações entre neofascismos, gênero e masculinidade;
- Ferramentas de capacitação serão aulas expositivas, debates e leituras que auxiliem a pensar criticamente as relações entre neofascismos contemporâneos, gênero e masculinidade;
- A leitura dos textos filosóficos e literários contribuirá para uma reflexão crítica acerca de questões políticas contemporâneas como a crise da forma democrática e a ascensão de Estados neofascistas.
Alunos (as) / pesquisadores (as) / profissionais das áreas de literatura, filosofia, direito, psicanálise e demais interessados na relação entre política e gênero.
Aulas expositivas, leitura e discussão de textos críticos, teóricos e literários por meio da plataforma zoom. Aulas síncronas. Haverá gravação das aulas (disponíveis até o fim do curso).