A psicologia fenomenológico-existencial se pauta especialmente sobre o eixo epistemológico composto por três pensadores. Kierkegaard nos apresenta o horizonte das possibilidades a partir da vivência originária da angústia, o jogo da necessidade com as possibilidades, do finito com o infinito, do eu com o outro e com Deus, da sedução pela imersão no consenso geral de normas e condutas, confrontado com a seriedade do mergulho na interioridade. Heidegger formula o ser humano como um ser-no-mundo. Analisa esse ser-aí constituído pela indissociabilidade entre as possibilidades próprias e os cenários histórico-sociais. Sartre, por sua vez, remata as noções nodais existenciais como angústia, desespero, liberdade, escolha, possibilidade, tédio, etc. Além disso, ressalta a subjetividade como intersubjetividade e, assim, articula o existencialismo com um humanismo comprometido com a práxis e com a história.
Dialogando criticamente com a psicologia, com a psicanálise, com Marx, com a literatura, Sartre desenvolve uma hermenêutica complexa, que envolve mais de um método, a saber, a fenomenologia de Husserl, Psicanálise Existencial e o Método Progressivo-Regressivo. Esses métodos não são meras prescrições procedimentais para as ciências sociais ou para a psicologia, mas constituem achegas ao trato com os fenômenos humanos e sua interação com o mundo.
A Psicoterapia Existencial Vivencial, pautando-se no embasamento fenomenológico-existencial e na constituição relacional da pessoa procura criar uma perspectiva teórica e um método. Não deve ser apropriado, antes do mais, apenas como a prescrição de uma técnica com fórmulas para serem seguidas irrefletidamente e imitadas passivamente. Trata-se de uma articulação entre Filosofia e Psicologia, um diálogo que culmina em um trabalho a partir da vivência: do vivido, como gostam de dizer os franceses, assim como a partir do vivente.
Psiquiatras como Binswanger, Medard Boss, Victor Frank, R.Laing e D. Cooper são expressões da apropriação do pensamento existencialista na prática clínica. Foi Rollo May quem introduziu tais autores nos Estados Unidos, mas tal importação sofreu uma “aclimatação” aos valores da cultura acadêmica norte-americana, já embebida nas ideias humanistas em psicologia, quando isso ocorreu. Talvez esta tenha sido uma das fontes de mal-entendidos entre a contribuição existencial e a escola humanista clássica (que trabalha sobretudo a partir do desenvolvimento organísmico proposto por Kurt Goldstein). Muitas vezes essas vertentes epistêmicas são imediatamente identificadas como se formassem uma escola única, apesar de consideráveis diferenças.
De acordo com a abordagem existencialista, talvez a menos conhecida na América seja aquela derivada dos trabalhos de Sartre. Existem diferenças entre implicações terapêuticas derivadas de seu trabalho e aquelas baseadas em outros autores existencialistas. O objetivo do curso é estabelecer um diálogo entre esses pensadores fenomenológico-existenciais e as perspectivas humanistas de cunho organísmico. Importa também estudar as propostas humanistas que dialogam com a abordagem filosófico-existencial, como a de Buber e a de Frankl para esclarecer as diferenças e semelhanças na prática clínica.
A Psicoterapia Vivencial é uma abordagem fenomenológico-existencial criada e desenvolvida por Tereza Erthal a partir da Psicanálise Existencial de Jean-Paul Sartre. A Psicoterapia Vivencial trabalha junto ao cliente a elaboração das suas escolhas e do seu projeto existencial, o que se dá a partir do contato fundamental com as vivências pessoais. A Psicologia Dialógica, por sua vez, é inspirada na ética humanista e na filosofia do diálogo de Martin Buber. Ela tem como base a centralidade da noção de pessoa como singularidade e relação, a compreensão de si mesmo a partir das relações que se estabelece no mundo e a consideração da alteridade na constituição da pessoa. A síntese entre a psicoterapia vivencial e a abordagem dialógica buberiana resulta numa psicoterapia que valoriza a autoconscientização do projeto existencial, a práxis e o assumir a responsabilidade pelas escolhas, a importância da constituição do si a partir do âmbito relacional.
Estabelecido o campo de diálogo interdisciplinar
que abarca o estudo do existencialismo e do humanismo sem a pretensão de
assimilar um ao outro, o curso de Pós-Graduação em Psicoterapia Existencial
Vivencial e Dialógica se propõe a articular esse contexto com temas e áreas que
envolvem a psicologia, a filosofia e as ciências sociais como a análise da
contemporaneidade e das relações humanas, a afetividade e a conjugalidade, a
hermenêutica das diferentes etapas da existência, o sofrimento e o padecimento
psíquico, a ética e a espiritualidade.